Há pouco mais de 30 anos, a Colômbia já avançava decisivamente na mudança rumo à digitalização. A rápida movimentação do mercado de servidores buscava suprir a necessidade que essas equipes tinham de uma infraestrutura elétrica adequada, mas havia poucas empresas no país comercializando soluções que se adaptassem a essas mudanças. Quando Graciela Manotas assinou o contrato para comercializar a UPS Eaton e abastecer esse mercado, ela era a única mulher na sala.
Com este contrato foi criada no país a empresa UPSistemas, que hoje continua a ser liderada por uma mulher e que agora mais do que nunca entende o valor da diversidade no setor das TIC. “A diversidade tem sido fundamental para nós –diz Martha Hernández de Gómez, atual presidente da empresa. Esse conhecimento de diferentes disciplinas e diferentes experiências complementam as soluções quando há um problema”. Apesar disso, é inegável que o setor da indústria de TIC continua com baixa diversidade.
Fazendo um pouco de história
A história dos computadores na Colômbia, curiosamente, começou há mais de 60 anos, quando a Bavaria importou o primeiro IBM 650 para o país. Este, obviamente, não era um computador feito de circuitos integrados, pois ainda não haviam sido inventados, mas era feito de tubos e operado com cartões perfurados. Curiosamente, muitos dos programadores para este tipo de máquinas eram mulheres, um cenário muito diferente do que vemos hoje.
Nessa mesma época, gigantes como Coltejer, Ecopetrol e Empresas Públicas de Medellín aderiram à tendência, cada uma com seu próprio IBM 650. Naquela época, os computadores pessoais ainda eram um sonho do futuro, e levaria até 1980 para que esse segmento pegasse. Manuel Davila e Iván Obregón fundaram a Microtec naquele ano e entraram plenamente no mercado nascente de microcomputadores, precursores do atual PC –computador pessoal-.
Dávila e Obregón venderam microcomputadores RadioShack, e Dávila desenvolveu um programa de contabilidade, em linguagem Basic, que acompanha cada computador. No entanto, a indústria internacional também chegou ao país, com os computadores NEC, que vieram das mãos de Carvajal, e a IBM, por meio de J. Glottmann. A crescente relevância da computação foi inesperadamente acompanhado por uma desaceleração no interesse das mulheres para estudar temas relacionados à ciência da computação.
Em termos da indústria nacional, a década de 90 significou um aumento significativo do número de computadores montados no país, conhecidos como 'clones'. Segundo Álvaro Montes, o mercado de 'clones' foi de 50%, montado principalmente no setor Unilago, em Bogotá.
Hoje, algumas das marcas nacionais mais reconhecidas são Janus, PC Smart e Compumax, que também montam e produzem componentes e acessórios para computadores, tablets e alguns smartphones. Da mesma forma, na área de software e serviços empresariais, o país teve importantes empreendimentos, como a formação, em 1987, da Associação Nacional dos Industriais de Software, Indusoft, hoje Fedesoft.
De muitas maneiras, os empreendimentos nascidos da indústria nacional de software e hardware se moveram em sintonia com a corrente internacional. Embora, segundo dados do Ministério das TIC, o setor de telecomunicações representa 6% do PIB colombiano, no país ainda existe o que é conhecido como exclusão digital. E embora a indústria de TIC seja inovadora e em constante avanço, a diversidade tem sido uma área em que ainda apresenta deficiências muito óbvias.
Acesso e diversidade
De acordo com um relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), na Colômbia apenas 67% dos estudantes de 15 anos têm acesso à Internet; 62%, para computador, e 29%, para software educacional. De acordo com Ivan Mantilla, ex-vice-ministro de Conectividade e Digitalização do Ministério de TIC, 53% dos lares colombianos têm conectividade fixa à Internet. No passado, aliás, o espaço de computação teve problemas como a imagem de que os usuários de computador tendem a ser homens.
No setor rural colombiano, onde vivem cerca de 10 milhões de pessoas, não há cobertura sequer de Internet móvel usando a rede 4G. Conversando com Impacto TIC, Mantilla enfatizou: "Hoje, apenas 9,6% na zona rural tem internet móvel (4G), e nem vamos falar de fixo, porque é praticamente inviável".
Essa falta de conectividade também resultou em uma falta de diversidade no setor de TIC. As comunidades afro, por exemplo, têm maior concentração em territórios como Chocó, Valle del Cauca ou San Andrés, que justamente tendem a ter menores percentuais de penetração tecnológica e conectividade. Como já dissemos em Impacto TIC, a educação e o acesso às novas tecnologias foram essenciais na criação do Vale do Silício, portanto também serão essenciais para que a Colômbia enverede pelo mesmo caminho.
Onde está a diversidade?
Em um vídeo publicado no Youtube, que registra uma conversa entre diferentes atores do mundo da ciência na Colômbia com Mabel Torres (Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação), Roberto Rojas Dávila, chefe da Seção de Grupos em Situações de Vulnerabilidade da Organização dos Estados Americanos (OEA), afirma que a solução para que mais pessoas da população afro-colombiana cheguem ao setor de TIC está no acompanhamento e acompanhamento a procura de canais de ensino. o racismo ainda um problema relevante no setor de TIC nacional e internacional.
E é justamente o Vale do Silício – a região onde o governo nacional se posicionou como modelo – que há anos enfrenta problemas para garantir a diversidade nas universidades e empresas. De acordo com dados da Wired publicado em outubro de 2019 e compilado das mesmas empresas, Apple, Facebook, Google e Microsoft são compostos por quase 90% de pessoas brancas ou asiáticas.
Nos Estados UnidosEm 2017, apenas 9% dos graduados em ciência da computação eram negros. Da mesma forma, aqui na Colômbia os graduados da Região do Pacífico (Oeste) representam 10,8% de todas as áreas de formação no ensino superior. Além disso, as mulheres ainda são minoria no setor de TIC colombiano, o que, por sua vez, reflete os baixos 23% de talentos femininos que fazem parte de algumas das maiores empresas do Vale do Silício.
A Colômbia é um país de alta diversidade étnica e, embora seja normal ter regiões com alta concentração de habitantes, como Bogotá e Medellín, em um mercado que precisa cada vez mais de talentos seria contraproducente não garantir os meios de acesso para mulheres, comunidades negras e indígenas do país.
Exemplos e iniciativas
E embora seja uma indústria marcadamente masculina e com poucos números de diversidade, no país e no mundo há exemplos que mostram uma indústria muito mais aberta do que se imagina.
"O fato de agregar experiências e formas de ver as coisas ajuda a resolver as coisas", diz Martha Hernández, da UPSistemas. “Para o país é importante, por um lado, ter a humildade de entender que não se sabe tudo. Segundo, que o bom senso e as diversas experiências complementam muito o conhecimento teórico”. O negócio da empresa cresceu desde a comercialização de UPS até o projeto, fornecimento e instalação de infraestrutura para data centers com clientes como IBM Colombia e Claro.
Da mesma forma, o recém-formado Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação é liderado por Mabel Torres, natural da Bahía Solano (Chocó), que reconhece a necessidade o que a nação tem para chegar a essas regiões remotas e conectar o talento colombiano com o apetite pelo empreendedorismo.
Mesmo as comunidades indígenas Eles se aventuraram no campo dos aplicativos, não apenas como consumidores do Facebook ou WhatsApp, mas também usando-os como ferramentas para difundir seus ensinamentos e sua cultura indígena.
E no cenário internacional, a situação é um pouco melhor: Lisa Su é engenheira do Massachusetts Institute of Technology e CEO da AMD desde 2012, com grande parte do sucesso atual da empresa Isso se deve à sua liderança. Mary Barra é a primeira CEO da General Motors, e sua visão de um futuro elétrico guiou a gigante automobilística nesse período de mudanças.
Indra Nooyi, natural de Chennai, Índia, atuou como CEO da PepsiCo; Safra Catz é o atual CEO da gigante Oracle; Susan Wojcicki é a CEO do YouTube; Gwynne Shotwell é presidente e COO da SpaceX; Os exemplos são muitos, e o ideal é que se tornem modelos para as jovens que hesitam em ingressar no setor de TIC.
Empreendedorismo, diversidade e tecnologia
De acordo com Andy, a inclusão de minorias étnicas nas empresas tornou-se uma vantagem competitiva. Para além da pura diferença étnica, os diferentes pontos de vista culturais significam empresas que sabem responder melhor aos novos desafios e obstáculos que possam surgir.
A Colômbia é um país tremendamente diversificado, mas é fundamental que saibamos usar essa diversidade para transformá-la em um ponto forte. A combinação de diversidade, tecnologia e empreendedorismo tem um enorme potencial para o país, mas a capacidade de aproveitá-lo está nas mãos da sociedade, das empresas e do governo.
Imagem Principal: Sharon McCutcheon en Unsplash